A FORMA COMO MEU FILHO NASCEU MUDOU MINHA VISAO DO MUNDO
- Estela Turozi.

- 12 de jul. de 2018
- 4 min de leitura
Pouca gente sabe, mas quando eu soube que estava #

eu não senti alegria. Não, eu não me senti abençoada e sim azarada. Eu me senti como se tivesse sido invadida e eu não conseguia sentir uma conexão com aquela criança que já crescia dentro de mim.
Ao mesmo tempo eu sentia que deveria correr contra o tempo para me preparar para cuidar deste ser que não tem culpa de nada.
Mas por que eu não sentia AMOR? Porque parecia que eu não seria boa mãe? Será que sou egoísta de mais para exercer tamanha doação?
Eram muitas perguntas, muitas angustias, muita aflição, ansiedade, temor…
Conforme os dias se passavam eu percebi que todas essas emoções não boas tinham um ponto em comum: o #PARTO
Não digo que eu tivesse #medo do parto, eu tinha mesmo era verdadeiro PAVOR.
Eu via esse momento como um castigo da natureza. Como se Deus não gostasse das fêmeas. Mulher só se ferra! É dor de #menstruação, #dor do parto, dor na #menopausa.
Parece que tudo que implica em VIVER, para mulher esta ligado ao #sofrimento.
Por que não pode ser diferente? Por que não pode ser mais fácil?
O fato é que nascer mulher não é mesmo fácil nessa sociedade. E por que não o é? Bom…ai temos assuntos para muitos textos….mas a verdade é que o nosso desrespeito a natureza é de longa data, em especial `a natureza feminina.
Eu cresci ouvindo a historia do meu nascimento. Minha mãe me contava como foi difícil, sofrido, doloroso. Ela foi subjulgada, humilhada, desprezada. Sentiu medo, vergonha, e muita muuuita dor.
No trabalho de parto estava sozinha e teve que ficar deitada sentido dores insuportáveis. Ouviu absurdos de enfermeiras, teve medo de o medico não estar por perto. Tinha fome e não podia comer. Fizeram lavagem intestinal (e a dor e vergonha aumentavam).
E tudo foi evoluindo ate dizerem que ela não tinha dilatação suficiente. Induziram o parto e as dores pioraram. Estouraram a bolsa e disseram que o bebe (eu) estava sofrendo, pois havia mecônio (fezes do bebe) no liquido. Corre para tomar anestesia e fazer cesárea senão mãe e filha podem MORRER.
Tem muito mais coisas ai, mas essa é outra historia. No entanto é a primeira historia sobre nascimento que eu ouvi, A MINHA PRÓPRIA.
Ouvi muuuuuitas historias semelhante a essa que outras mulheres passaram. É comum. É “normal”. É assim mesmo! Ouvindo isso fica evidente que fazer uma cesariana é a melhor escolha a se fazer.
Alem disso eu assisti a dezenas de filmes e novelas durante minha vida que mostravam aquele parto trágico. Gritos imensos de desespero. Mulheres expostas aos olhares de homens que dizem quando ela tem q fazer força para seu próprio bebe nascer.
O parto é um momento ridículo. O bebe é maravilhoso, mas o parto este é ridículo.
Por essas e outras que EU TINHA CERTEZA QUE IRIA MORRER NO PARTO!
Eu CHOREI copiosamente noites e noites. Não necessariamente eu morreria fisicamente, mas que o sofrimento pelo qual eu passaria me deixaria marcas por toda a vida. Cicatrizes dolorosas.
Eu sentia como se estivesse em um labirinto para a tragédia. Sentia-me como uma vaca indo para o abate. Eu não queria aquilo, mas eu não tinha como evitar. Conforme o tempo passava eu chegava mais perto desse dia.
No entanto, por mais que eu tivesse essa visão negativa também havia em mim uma voz que dizia:
Como tantas mulheres pariram por tanto tempo? Como chegamos ate aqui? É possível a natureza permitir que uma mulher forme outro ser humano e não tenha capacidade de coloca-lo para fora?
Algo me dizia que o mundo é cruel e injusto, mas também que a natureza é perfeita. Que o nosso corpo sabe o que fazer.
Foi então que fui atrás de toda ajuda que podia ter.
Eu gozo da facilidade que todas as outras mulheres da minha família não tiveram:
acesso a TODO tipo de informação e facilidade em encontrar pessoas.
Eu procurei pessoas que estudavam e acreditavam na natureza.
Neste processo eu entendi algo que me provocou imenso ALIVIO.
O parto é processo de entrega. É ruptura. É confiança no próprio corpo. É encontro com a essência. É reencontro com o feminino.
Mas e a dor Estela?? Você pode se perguntar. — A dor é terrível, todas as mulheres falam!!
E eu te pergunto:
De qual dor estamos falando? A dor natural do parto? Ou a dor insuportável que o
desrespeito e a tirania sobre as mulheres causa?
Quando se vai contra o que o corpo precisa ele chora e protesta.
Eu me preparei. Me tornei mais confiante, mais positiva. Os maiores medos eram baseados em mitos.
A vida foi ficando mais leve e A HORA DO PARTO CHEGOU.
Eu confesso que SENTI MEDO SIM. Ui Ui não era a hora, não to pronta ainda.
Mas eu estava cercada de pessoas que acreditavam em mim. Minha obstetra me abraçou e me disse: Você pode achar que não esta pronta, mas você esta!
E isso me deu tanta força. Eu segui o processo ouvindo e respeitando os chamados de meu corpo.
Eu me movimentei, respirei, exalei, gritei, urrei, me inclinei, me agachei.
Eu só me preocupava em PERMITIR. Não atrapalhar. O que eu vivia ali era único. Não havia lembrança alguma daquilo.
Meu grito não era de desespero NUNCA, ele era de respeito ao MEU CORPO. Ele era o BARULHO DA MINHA CONTRAÇÃO.
Não há como silenciar o mar em uma tempestade, da mesma forma não há como silenciar uma mulher parindo seu próprio filho.
A dor ora era instensa como uma onda gigante, ora era como uma marolinha. Mas eu podia surfar.
Me chamou mais atenção o cansaço e o sono do que a dor em si.
Eu estava inteira dentro de mim e fora do mundo. Não me atrapalharam. A doula perto de mim era a força do feminino. – Essa mulher sabe pelo que estou passando. –
No final senti a adrenalina que meu corpo liberava. Meus olhos se abriram, minha visão ficou limpa. O cansaço foi embora. Voltei minha atenção para o mundo.
Que mudança!!! Meu corpo esta fazendo TUDO!!
Meu filho estava ali, senti a cabecinha, estava acabando. E ele veio, veio direto pra mim! O segurei como quem pega o milagre nas mãos.
O milagre saiu de mim. A VIDA saiu de mim. Eu vi a VIDA ali!
Realmente eu tinha morrido e renascido imediatamente.
E o EXTASE tomou conta! Eu vou cuidar deste pequeno por toda minha vida.
EU POSSO. EU CONSIGO. EU SEI. EU APRENDO. EU ESTOU ATENTA!
Eu acredito que precisamos partilhar relatos honestos para DERRUBAR MITOS:
que as mulheres não conseguem parir,
que o parto é sofrido e perigoso.
Hoje eu trabalho para que mais mulheres possam CONHECER O PODER DE SEUS CORPOS!






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