PARA QUE A DOR DO PARTO?
- Estela Turozi.

- 2 de jul. de 2019
- 3 min de leitura

Quando uma mulher escolhe pelo parto natural é comum ela escutar a pergunta: Mas por que você quer sentir dor?
Sabemos que o trabalho de parto é, na maior parte das vezes, doloroso; logo, poder optar por não vivenciar as contrações tão temidas parece uma opção razoável.
Além disto, temos a ideia aprendida que a dor do parto é parte da punição divina para a mulher que cometeu o pecado original: “Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores” (Gên.3:16).
Para além das interpretações bíblicas o fato é que crescemos com a crença de que a dor é algo ruim e é sim uma punição dada em especial às mulheres. Esta interpretação propositalmente equivocada tem impactado profundamente as gerações atuais e acaba por limitar a percepção da condição humana.
Mas se a dor não é uma punição para que então a dor ao parir? Existe um propósito para essa dor?
Se você puder ouvir alguns relatos de mulheres que vivenciaram o trabalho de parto vai perceber que ele é, muitas vezes, cheio de ansiedade e dúvidas. Quando o processo começa (e ele é único para cada mulher e para cada nascimento) é comum esta mulher contar que, mesmo com sensações dolorosas, ela ainda queria FAZER ALGUMA OUTRA COISA ANTES. Por mais que a mulher deseje ver seu bebê, normalmente o processo do trabalho de parto gera medo, afinal é uma experiência profundamente intensa e desconhecida. Há então uma tendência natural de fugir desta etapa.
Algumas mulheres contam que, mesmo sentido dores, elas ainda queriam passar no supermercado, falar com a mãe, deixar o filho mais velho com a avó, terminar de arrumar as roupinhas ou outra tarefa qualquer. Ou seja, simplesmente, se você não marcou a cirurgia para ver seu bebê provavelmente você vai querer esperar algumas horas a mais.
Todas as gestantes que atendo me perguntam: mas como eu vou saber que estou em trabalho de parto real? E eu respondo: você vai saber porque quando for A HORA chegará um momento que você não poderá ignorar!
E é isso, as contrações vão se tornando mais intensas e à medida que o trabalho de parto avança O CORPO FALA CADA VEZ MAIS ALTO DE FORMA QUE NÃO EXISTA A POSSIBILIDADE DE NÃO ESCUTÁ-LO. É como se o corpo te dissesse: Ei, pode parar tudo que está fazendo, este bebê vai nascer e é agora! Ah..mas eu ainda preciso ligar para o fulano! NÃO, NÃO, NÃO. O corpo da mulher vai LITERALMENTE fazer barulho, e fará tanto barulho de forma que esta mulher vai precisar verbalizar isso. Este pode ser o momento dos gemidos intensos. A necessidade natural é de olhar para dentro. Todas as urgências externas ficam imediatamente pequenas e ESTA MULHER SÓ PODE OLHAR PARA SI. Ela vai observando cada vez mais seu corpo. Chega um momento em que ELA SÓ PODE SENTIR. O INSTINTO toma conta. E este processo, se respeitado, é exatamente o que torna o parto MENOS DOLOROSO.

Exatamente porque a mulher ouve seu corpo que ela consegue dar a luz. Portanto se a dor tem uma função nesta transformação do feminino é justamente chamar a mulher para dentro de si. O parto avança até muitas vezes causar um estado de transe, onde literalmente há uma alteração de consciência. Alí todo o externo fica praticamente emudecido e a conexão é total com o corpo.
Já as mulheres que não sentem praticamente ou nenhuma dor durante o parto é comum ouvir historias de que quase que o bebe cai no chão. Eu mesma soube de uma mulher que dirigiu até uma hora antes de sua bebê nascer. Ela contou que não sentia nada e por isso continuou fazendo uma série de coisas até que sentiu vontade de fazer força e na terceira a criança veio. Que susto! Podemos pensar que, talvez, se não fosse o parto um processo intenso e por vezes doloroso, as gestantes estariam andando por aí enquanto um bebe caia no chão do nada.
Por isso, falar e ressignificar a dor do parto é fundamental para quebrar mitos sobre nossa natureza. É fazer as pazes com o corpo e o feminino. Eu diria que é, até mesmo, fazer as pazes com Deus, já que é também pelo nascimento de uma criança que entramos em contato com nossa potência criadora.









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