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COMO AJUDAR QUEM SOFRE SOZINHO

  • Foto do escritor: Estela Turozi.
    Estela Turozi.
  • 29 de mai. de 2020
  • 3 min de leitura

Um príncipe, certa vez, ficou enfermo e pensou que era um peru. Recusava a vestir-se e passou a viver debaixo da mesa da sala alimentando-se das migalhas que caiam no chão. O rei convocou os maiores médicos da corte, porém nenhum deles obteve sucesso em curá-lo.

Um sábio andarilho soube do caso e ofereceu seus préstimos. Já em desespero, o rei aceitou. O sábio então retirou suas roupas e passou a viver junto com o príncipe debaixo da mesa, apresentando-se a ele como um colega peru.

Passadas algumas semanas o sábio pediu uma túnica. “O que está fazendo?”, perguntou a ele o príncipe-peru. “Perus não usam túnicas!” Então o sábio respondeu: “Não há leis que proíbam que nós perus possamos colocar uma túnica!”, disse, oferecendo em seguida uma túnica ao companheiro. O príncipe ficou pensativo, mas acabou por acompanhá-lo.

Alguns dias depois, vestido com sua túnica, o sábio resolveu ter uma refeição completa servida debaixo da mesa. “E o que você está fazendo agora?”, perguntou o príncipe-peru, surpreso. A resposta do sábio foi bem parecida com a anterior: “Não há razão para que nós, perus, comamos migalhas quando podemos ter uma refeição completa à nossa disposição.” E o príncipe acompanhou o sábio em seu banquete.

Na manhã seguinte, o sábio resolveu levantar-se e comer sentando-se à mesa. E ele se adiantou, explicando: “Não há nenhuma proibição para que nós perus nos sentemos à mesa. É bem mais confortável…. venha e veja por si mesmo!” E assim fez o príncipe, que com o tempo recuperou-se completamente de sua enfermidade.

Esta história é anterior aos conhecimentos psicanalíticos e decifra importantes chaves do tratamento e da cura. É comum querermos rechaçar o comportamento de quem sofre calado ou passa a se comportar de uma maneira inconveniente ao meio.

É o caso de quem sofre com depressão, crises de ansiedade, síndrome do pânico, fobias, transtorno obsessivo, dores ou doenças crônicas como fibromialgia entre outras.

Por que você não sai de casa? É só pensar positivo que passa! Isso é falta de Deus! É falta do que fazer! É coisa da sua cabeça. É coisa de gente fraca.

Tive uma paciente que me contou ter ouvido de uma pessoa próxima que aquilo tudo não passava de “frescurite aguda”. Da pra acreditar??? *O preconceito impera naqueles que não conseguem se colocar no lugar do outro*.

Mas por que isso acontece?

Muitas vezes a dor é tão pessoal e intensa que a reclusão e o isolamento são utilizados como forma de sobrevivência por quem sofre. Quando isto ocorre a pessoa que padece não permite a entrada de mais ninguém e acaba por retroalimentar sua doença e sofrimento na solidão. Em contrapartida, as pessoas ao redor dela, acabam por se angustiar pela impossibilidade de ajudar.

O fato de estarmos vivendo o isolamento social agora amplifica ainda mais todos os sintomas e aparecimento de doenças por estresse, medo, luto e solidão.

Quais lições podemos tirar dessa história?

  1. Embora todos os médicos do reino tivessem usado seus conhecimentos para curar o príncipe, nenhum se colocou de fato próximo a ele. *Para ajudar quem você ama deve-se primeiro estar presente.*

  2. O aparecimento do segundo peru gradativamente expulsou o príncipe desse lugar de solidão grave, onde só há espaço para apenas um. Ganhando a confiança, ao mostrar que a parceria é inclusiva e verdadeira, o sábio pode visitar o lugar de dor. Somente *quando o príncipe se sentiu conectado ao sábio ele pode recuperar sua humanidade* e voltar à realidade.

Mas Estela, como posso ajudar quem eu sei que está sofrendo?

São duas as condições fundamentais para isto:

  1. Tenha *EMPATIA*

Esta é a base de qualquer tratamento.

Uma dica para isto é conhecer seus sentimentos. *Se você não conhece o que sente não pode compreender a dor do outro.*

Por exemplo, mesmo que você nunca tenha vivido situação idêntica à do outro, procure se lembrar dos momentos em que você se sentiu sozinho, mal compreendido, com vontade de se afastar, triste ou mesmo perdido. Assim fica mais fácil se colocar no lugar de quem sofre.

  1. Estabeleça *CONFIANÇA*

Sem confiança não há movimento. Para isto é necessário ouvir com atenção e sem julgamentos. Tenha certeza que o outro já carrega um peso grande demais nas costas e ouvi-lo é uma forma de aliviar o sofrimento. Muitas vezes não é preciso dizer nada, apenas mostrar que você esta ali e é tão humano quanto o outro.

E você? Qual lição mais tirou desta história?

Estela Turozi.

História de Sipurei Maasiot, Breslav (retirado de Cabala e a arte do tratamento da cura – Nilton Bonder)

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