Ele me bateu — e a culpa foi minha
- Estela Turozi.

- 4 de nov.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de nov.

Mas é uma das frases mais repetidas — silenciosamente — por tantas mulheres que conhecemos. E, talvez, sem perceber, também já tenhamos pensado algo parecido em algum momento da vida.
Recentemente, ouvi uma mulher dizer algo assim numa entrevista. Ela relatou ter sido agredida e, depois, passou a negar o que viveu. Disse:
“Sou calma, mas quando me tiram do sério, eu também fico agressiva. Ninguém consegue ter equilíbrio 100% do tempo. ” E completou dizendo que “fica roxa com facilidade”.
A princípio, pode parecer apenas uma fala confusa, mas há um eco muito mais profundo aí — um espelho coletivo.
🌿 A mente que protege, o corpo que denuncia
Quando alguém sofre uma agressão, especialmente de quem ama, o corpo sente primeiro — e a mente tenta proteger. A dor é tão grande, tão inconcebível, que o cérebro cria uma história para tornar aquilo suportável. É a negação: “Não foi tão grave assim. “Eu também errei.” “Ele perdeu o controle, mas me ama.”
A mente fabrica justificativas para sustentar o que o corpo já sabe que foi errado. E é nesse abismo entre o sentir e o pensar que tantas mulheres se perdem — porque acreditar na violência dói mais do que negá-la.
💭 O reflexo coletivo
Mas o problema não termina na vítima ou no agressor. Ele continua no coletivo que normaliza, silencia e, muitas vezes, aplaude.
Vivemos em uma cultura que ainda ensina mulheres a duvidar de si mesmas. E ensina homens a serem protegidos pela desculpa da imaturidade, do estresse, da “natureza masculina”.
A família, os amigos, a sociedade… muitas vezes repetem as mesmas frases: “Mas ele é tão bom.” “Ela também provoca.” “Todo casal briga.” “Foi só um momento de raiva.”
E é assim, entre um comentário e outro, que a violência se torna rotina. A mulher é desacreditada, e o homem é vitimizado. A culpa troca de corpo — e se instala onde não deveria estar.
🕊️ A infância onde tudo começa
Essa dinâmica não nasce no casal — nasce na infância. Nas famílias onde o menino aprende que pode tudo e a menina aprende a ceder, a cuidar, a entender o outro antes de entender a si. Nas casas onde a violência é “educação”, e o amor vem junto com dor.
É ali que começa o ciclo: a menina cresce achando que amor e medo podem ocupar o mesmo espaço, e o menino cresce acreditando que poder e afeto são a mesma coisa.
🌙 Negação não é mentira — é defesa
Negar o que vivemos é, muitas vezes, o primeiro passo da sobrevivência. É o corpo tentando respirar dentro do caos. Mas se essa negação se prolonga, ela vira prisão. E o corpo começa a falar: em forma de ansiedade, insônia, dores, hematomas — ou silêncios longos demais.
Não é sobre julgar quem nega. É sobre entender que reconhecer é o primeiro ato de coragem.
💫 A cura começa na responsabilização
Curar não é encontrar culpados — é assumir responsabilidade. Responsabilidade não é culpa. É consciência.
A mulher precisa entender onde aprendeu a duvidar de si, e o homem precisa entender por que aprendeu a se justificar tanto.
Enquanto um não olha pra dentro e o outro não é chamado à responsabilidade, o ciclo continua. E a sociedade segue aplaudindo quem agride e desacreditando quem sofre.
🌸 O que isso diz sobre nós
Diz que ainda somos uma sociedade que confunde amor com controle, cuidado com posse, perdão com silêncio. Diz que crescemos acreditando que sentir demais é fraqueza e que suportar é virtude. Diz que ainda precisamos falar — e muito — sobre o que normalizamos todos os dias.
Mas também diz que há cura, que há consciência nascendo, e que quando uma mulher se escuta de verdade, todas as outras começam a se curar também.
🌿 Texto: Estela Turozi✨ Série: O que isso diz sobre nós🕊️
“Compartilha — porque quando uma mulher se cura, todas se curam também.”









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